sábado, 5 de fevereiro de 2011

Presidente egípcio não deve transferir cargo ao vice, diz premiê


Rio - O primeiro-ministro do Egito, Ahmed Shafiq, disse nesta sexta-feira que o presidente Hosni Mubarak não deve renunciar, nem transfrir seu cargo para o vice-presidente do país. A informação foi repassada pela TV Al Arabiya.

"Precisamos do presidente por razões legislativas", disse Shafiq, segundo a Al Arabiya. Mubarak nomeou Omar Suleiman como vice-presidente após a pressão de manifestantes, preenchendo o cargo que estava vago desde que assumiu a Presidência.

Dezenas de milhares de egípcios deixaram o medo de lado e foram nesta sexta-feira às ruas das principais cidades do Egito para reivindicar mais uma vez a saída do presidente Hosni Mubarak, em desafio à violência civil provocada por simpatizantes do regime político do país desde quarta-feira.
Foto: EFE
Praça de Tahrir fica mais uma vez tomada por manifestantes | Foto EFE
Sexta-feira, dia da oração. Houve a presença de homens e mulheres, muçulmanos e cristãos, à praça Tahrir, no centro do Cairo, onde caíram em lágrimas quando o imame que conduzia a oração do meio-dia tremulou a voz, emocionado.
 
Um jovem não conseguia parar de chorar enquanto um grupo de homens tentava consolá-lo, em vão. Seu irmão tinha morrido nos conflitos. Os manifestantes pró-democracia tinham batizado este dia como "sexta-feira da partida" e tinham marcado a data em vermelho, porque, diziam, em 4 de fevereiro chegaria o triunfo final, a saída definitiva do presidente Hosni Mubarak.

A realidade é que Mubarak segue à frente da Presidência, embora muitos tenham considerado nesta sexta-feira, na praça Tahrir, que o obtido até agora justifica sua insistência. "Não acho que Mubarak vá embora", disse à o guia turístico Kadafi Youssef, que participava dos protestos pelo segundo dia. "Está há 30 anos no poder e, para ele, seria uma desonra deixá-lo forçado. Saindo agora ou não, este país vai mudar depois disso".

Outros se mantêm firmes em suas reivindicações e continuam exigindo que Mubarak renuncie imediatamente e delegue seu vice-presidente, Omar Suleiman, para liderar a transição.

"Estamos em um momento decisivo. Adotamos uma posição absolutamente pacífica e não traremos a mudança por meio da violência", declarou o manifestante anglo-egípcio Adam Molyneux Haifa, que destacou a união entre muçulmanos e cristãos coptas ao levantar suas vozes em favor da democracia.
Foto: EFE
Dezenas de milhares de egípcios deixaram o medo de lado e foram ás ruas | Foto: EFE
A concentração desta sexta-feira se distinguiu das anteriores por uma maior organização e, sobretudo, pelas grandes medidas de segurança instaladas ao redor da praça Tahrir para evitar um confronto direto com os simpatizantes de Mubarak.

Pela primeira vez desde que começou o movimento civil em 25 de janeiro, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, visitou a praça e passou revista às tropas de segurança mobilizadas em torno da praça Tahrir - tropas essas formadas por membros das Forças Armadas.

Os 11 dias de protestos ininterruptos já começam a cansar física e psicologicamente muitos dos manifestantes. No entanto, alguns não perdem o senso de humor. Um cartaz que um jovem segurava nesta sexta-feira reivindicava a Mubarak: "Vá embora logo, porque meus braços estão cansados"

Protestos convulsionam o Egito
Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak.

A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos na capital. Manifestantes pró e contra o governo Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. O número de mortos é incerto, entre seis e dez, e mais de 800 pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, o governo disse ter iniciado um diálogo com os partidos. Mas a oposição nega. Na praça Tahrir e arredores, segue a tensão. 

Com informações da EFE

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