terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O perigo do empobrecimento da informação

 Rubens Teixeira [*]

RIO DE JANEIRO (ABN News) - A comunicação é importante e necessária desde o momento que o ser humano descobre-se como ser social. O jornalismo é uma ferramenta importante para que a comunicação se estabeleça para as grandes massas, trazendo à lume de forma rápida e eficiente novidades valiosas que são úteis para o dia a dia da sociedade. Evidente que as informações são originárias de um leque de áreas do conhecimento, impossíveis de serem dominadas por uma só pessoa. A profundidade e a complexidade dos temas exigem capacidade honesta e suficiente de decodificação para que a pessoa comum de inteligência e discernimento mediano seja capaz de entender.
Para que isto ocorra, o profissional decodificador deve efetivamente entender o tema para que, de forma gradual e didática, consiga torná-lo inteligível.

A transmissão de conhecimento, seja do mais simples ao mais complexo, é feita pela comunicação. Para cada caso, há uma especificidade de atributos necessários para transmiti-los. O conhecimento sem lastro em título acadêmico é consagrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O artigo 66 que se refere à preparação dos docentes para o magistério superior assevera em seu parágrafo único que "O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico." A declaração expressa da lei de que um professor pode ter seu título acadêmico suprido pelo notório saber traz implicitamente a idéia de que o diploma acadêmico deve ser exigido, necessariamente, em situações quando é imperativa a demonstração de perícia e conhecimento específicos que, se não atendidos, poderão gerar riscos de graves prejuízos à vida, a segurança e ao bem-estar social.
Exigências fora deste contexto configura-se reserva de mercado.

Obviamente que o ensino e a pesquisa é importante em todas as áreas que reúnem um arcabouço de conhecimento sistematizado. Caso se justifique, é importante que se estruture um curso específico. Todavia, o cerceamento do exercício da atividade jornalística para não graduados em jornalismo gerará limitações que prejudicam o desenvolvimento social e a gestão do conhecimento e da informação em circulação, especialmente porque a transmissão de informação com qualidade carece de sustento de todas as áreas do conhecimento que sejam objetos de matéria jornalística. É a contradição de uma profissão que em tese valoriza a informação com qualidade e precisão e onde forma é atributo de importância menor que o conteúdo.

Os temas de alta complexidade nas diversas áreas do conhecimento são transmitidos por estudiosos que detêm o conhecimento científico específico na área. Tais cientistas não são necessariamente graduados em jornalismo. Além de cientistas têm capacidade de comunicar-se por vocação e treinamento específico.
Certamente nem todos os pesquisadores são dados a escrever sistematicamente sobre seus próprios experimentos. Estes temas de elevada complexidade devem ser apresentados de forma precisa e podem sofrer contestações como é próprio da dialética científica. Um estudioso que é precursor em um assunto novo sofre todas as contestações típicas de um debate científico. Transmitem o conhecimento no mais alto nível sem necessariamente ser formados em jornalismo por universidade.

Contudo, é importante que haja um curso específico que ensine de forma sistematizada as técnicas que se deve utilizar para lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações, mas não se justifica a exigência de um diploma acadêmico, em especial pelas diversas áreas que podem estar vinculadas a notícia.
Supor que a profissão de jornalista só pode ser exercida por quem possui diploma é assumir o risco de que as informações que exigem especificidade de conhecimento possam ser transmitidas com imprecisões e até incongruências. Admitir que alguém seja capaz de se comunicar com grandes massas de forma precisa e segura sobre qualquer tema apenas porque realizou um curso acadêmico é tratar a informação com um reducionismo incompatível com a própria dignidade que a profissão de jornalista e o conhecimento requer.

O exercício do jornalismo requer conhecimento técnico passível de aprendizado especialmente pelos que já
possuem a vocação natural e aperfeiçoamento profissional desenvolvidos inclusive em outros cursos acadêmicos. Há profissionais que possuem performance em temas específicos e dispõe de dom e conhecimento de comunicação suficientes para trazer de forma precisa, segura e com qualidade informações relevantes para a sociedade e poderão estar sujeitos ao empobrecimento das suas idéias por uma mera disposição legal anacrônica ao nosso tempo e rechaçada em vários países desenvolvidos no mundo. Será um caminho de insegurança para a informação e um limitador na velocidade da informação que colocará o país em desvantagem em uma das atividades mais relevantes da atualidade, especialmente pela aceleração das informações e da importância delas para as decisões cotidianas. Será dar importância primária à forma e secundária ao conteúdo. 

A inversão de algumas premissas lógicas que justificam a existência do jornalismo como a
informação precisa, segura, oportuna e correta.

[*] Rubens Teixeira, é mestre em
Engenharia Nuclear, pelo Instituto Militar de Engenharia, engenheiro de
fortificação e construção, pelo Instituto Militar de Engenharia.
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRJ, e bacharel em
Ciências Militares, pela Academia Militar das Agulhas Negras. Doutor em
Economia, pela Universidade Federal Fluminense, pós-graduado em
Auditoria e Perícia Contábil, pela Universidade Estácio de Sá.  
É professor universitário em Matemática, Direito e Economia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário